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Conheça Ernst Götsch: o pai da Agricultura Sintrópica e brasileiro da Agrofloresta
10/07/2016 – Referência internacional em Sistemas Agroflorestais, Ernst Gotsch desenvolveu uma técnica de plantio apurada, cujos princípios e práticas podem ser aplicados a diferentes ecossistemas. “Amazônia, Cerrado, Altiplano Boliviano, Caatinga”. Com uma visão de agricultura que concilia o ser humano com o meio ambiente, Gotsch publicou artigos, mas nunca escreveu sobre o conjunto de suas observações, pois acredita que suas pesquisas não estão finalizadas. E, mesmo sobre as conclusões a que já chegou, diz que “não há nada a ser dito, porque é óbvio”, com a clareza do que funciona, que naturalmente nos salta aos olhos.
Tomemos como exemplo um cientista, dedicado ao melhoramento genético, que buscava em plantas forrageiras – seu objeto de estudo – genótipos mais resistentes a doenças. Imaginemos agora esse mesmo cientista parando, em determinado momento, para se perguntar se a resposta que buscava não poderia vir do caminho oposto ao que ele estava seguindo.
“Não obteríamos melhores resultados se buscássemos métodos de cultivo que proporcionassem condições favoráveis ao bom desenvolvimento das plantas, em vez de criar genótipos que resistissem aos maus-tratos a que as submetemos?” Gotsch. Assim germinou o pensamento sobre Agricultura Sintrópica, dentro das pesquisas e da vida de Ernst Gotsch, suíço nascido em 1948.
Na década de 1970, Götsch desenvolveu seus primeiros estudos sobre sistemas complexos de plantio, em áreas do norte da Suíça e sul da Alemanha. Sempre buscando o caminho dos consórcios entre espécies, testou, por exemplo, as antigas tradições de plantar milho com feijão, mas também experimentou novas associações como trigo e ervilha ou framboesa, maçã e cereja, entre outras. Do sucesso das colheitas, começa a emergir a ideia de organismo. Da ideia de organismo viria a cooperação e, daí, a ideia de sucessão, sistemas e muitos outros conceitos que fundamentam a filosofia e a técnica deste agricultor e pesquisador, no sentido mais orgânico dos termos.
Em 1979, mudou-se para a Costa Rica. Lá, realiza trabalhos de recuperação de solos degradados com a implementação de Sistemas Agroflorestais altamente produtivos, sempre sem agroquímicos.
Chegou ao Brasil em 1982 e em 1984 fixou residência em uma fazenda no sul da Bahia. O nome da fazenda, como é de praxe na região, era uma crônica da realidade local: “Fazenda Fugidos da Terra Seca”. Aproximadamente 500 hectares de terra tornaram-se improdutivos devido a práticas como: corte de madeira, ciclos repetidos de cultivo de mandioca nas encostas dos morros, criação de porcos nas terras baixas e formação de pastagens por meio de fogo ao longo das laterais da estrada que corta a fazenda.
Ali, daria continuidade ao desenvolvimento obsessivo de seus experimentos em Sistemas Agroflorestais Sucessionais, alcançando alta produtividade em uma grande variedade de espécies vegetais, com destaque para cacau e banana. Além de alimentar sua família e tirar sua renda dali, as consequências de sua intervenção puderam ser observadas empiricamente mais tarde. A Mata Atlântica ressurgiu na área, com todas as suas características de flora e fauna.
Hoje são cerca de 410 hectares de área reflorestada, dos quais 350 foram transformados em RPPN, além de 120 hectares de Reserva Legal. Cerca de 14 nascentes ressurgiram na fazenda, que hoje, seguindo a tradição do cronista, passa a se chamar “Fazenda Olhos d’Água”.
Referência internacional em Sistemas Agroflorestais Sucessionais, Ernst Gotsch desenvolveu uma técnica de plantio apurada cujos princípios e práticas podem ser aplicados a diferentes ecossistemas. “Amazônia, Cerrado, Altiplano Boliviano, Caatinga, vi que todos esses lugares podem ser um paraíso quando bem trabalhados”.
Com uma visão de agricultura que concilia o ser humano com o meio ambiente, Gotsch publicou artigos, mas nunca escreveu sobre o conjunto de suas observações, pois acredita que suas pesquisas não estão finalizadas. E, mesmo sobre as conclusões a que já chegou, diz que “não há nada a dizer, porque é óbvio”, com a clareza do que funciona que naturalmente salta aos nossos olhos.
Sistemas Agroflorestais
As agroflorestas são sistemas de produção de alimentos. No início, podemos colher nelas culturas que produzem em pouco tempo e que são criadoras de árvores. Com o tempo, as árvores passam a produzir e podemos colher muitas frutas, plantas medicinais, madeira e outros produtos da agrofloresta.
Para que possamos produzir alimentos de forma sustentável, ou seja, de maneira que o sistema seja sempre produtivo ao longo do tempo, e ao mesmo tempo mantenha ou melhore as condições do lugar (com relação ao solo, à água, à diversidade de vida), aproveitando de melhor forma possível a energia do sol, procuramos aprender com a natureza. Por exemplo:
Plantar muitos tipos de plantas, de diferentes tempos de vida;
Combinar as plantas de forma que as que têm mais ou menos o mesmo tempo de vida possam ocupar todos os estratos, em diferentes alturas;
Manter o solo sempre coberto com muita matéria orgânica;
Plantar as plantas cultivadas no espaçamento tradicional e as árvores bem juntas, de modo que possam ser selecionadas com o tempo e fiquem as mais vigorosas.
Além de combinar as espécies no espaço, combinam-se os consórcios no tempo, assim como ocorre na sucessão natural de espécies, onde os consórcios sucedem-se uns após outros, num processo dinâmico, dependendo do ciclo de vida das espécies.
As espécies podem ser classificadas em grupos ecológicos ou sucessionais e essa classificação pode se dar de várias formas. Podemos classificá-las em grupos quanto ao tempo de vida e também à exigência das plantas a condições de solos mais ricos ou mais pobres.